Jornal O 
POVO


Rio de Janeiro, Dia 26 de Abril 97


Jornal O GLOBO,
Segundo Caderno


As realidades do mundo virtual


Visorama e CD-ROM sobre a obra de Hélio Oiticica unem tecnologia e criatividade.


Imagine um telescópio através do qual se pode contemplar determinado ponto do Rio como ele era há um século. Na paisagem, escolha um prédio, o Centro Hélio Oiticica, ÿpor exemplo, entre nele e visite sua coleção sem sair do lugar. O que parece delírio futurista já saiu do papel e se torna uma realidade mais concreta do que virtual nos projetos Visorama e Arte Interativa, realizações do N-Imagem, o Núcleo Cultura e Tecnologia da Imagem da Pós-Graduação da Escola de Comunica ção da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

- Nós estamos tentando acabar com a separaçção , muito comum na universidade, entre trabalhos teóricos e práticos, que é uma esquizofrenia. Queremos produzir - diz o professor André Parente, que há seis anos participou da cria ção do N-Imagem. - O Arte Interativa vai resultar num CD-ROM sobre a obra de Hélio Oiticica e um site do Centro de Artes com direito a visita virtual. E o Visorama é o primeiro projeto de realidade virtual integrado ao espaço urbano no Brasil, criando panorâmicas da cidade em outras épocas.

Idéia do telescópio vem dos panoramas

A idéia básica do equipamento, conta Parente, não vem de hoje. O Visorama tem como avôs ilustres os panoramas, gigantescas pinturas de paisagens em 360 graus que instaladas em prédios, eram para o século passado o que o cinema tem sido neste: uma possibilidade de viagem, sem sair do lugar, através de estímulos à percepção .

- Victor Meirelles chegou a pintar grandes panoramas do Rio de Janeiro, mas todos eles se perderam - conta Parente, que trabalha no Visorama com os pesquisadores Jonas Gomes e Luiz Velho, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, o Impa. - Estamos realizando uma pesquisa em imagens de época para alimentar o Visorama, que a partir das fotografias consegue criar um ambiente virtual.

Na computação gráfica, em geral são criados modelos matemáticos que são transformados em imagens. No Visorama, o processo é inverso: a partir de imagens, são criados modelos que permitem simular realidade, reconstruir, por exemplo, a geografia de outras décadas. Apoiando pela Funda ção Universitária José Bonifácio, o projeto está sendo apresentado neste fim de semana no "New story-tellers", um congresso mundial de novas tecnologias da imgem realizado em Fortaleza. Ainda este ano, encontros sobre novas mídias em Bruxelas e na Universidade de Paris 8 também conhecerão o telescópio.

- Na verdade, o Visorama é para ser pensado a longo prazo, pode ter muitos usos - diz Parente. - É possível, por exemplo, contratar artistas plásticos para intervir virtualmente na cidade. Eles criam obras que são inseridas na paisagem através do telescópio.

Este potencial criativo das novas tecnologias levou a professora Kátia Maciel a associar a experimentação de Hélio Oiticica com possibilidades abertas pelo CD_ROM. Em vez de produzir um disco como os dedicados tradicionalmente a pintores e museus, ela optou por dividir a obra de Oiticica a partir de seus conceitos fundamentais: bólides, parangolés. metaesquemas etc. Kátia gravou vídeos sobre cada um dos temas para inserir clipes no CD e ainda distribuí-los em fitas de home vídeo.



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