- Nós estamos tentando acabar com a separaçção , muito comum
na universidade,
entre trabalhos teóricos e práticos, que é uma esquizofrenia.
Queremos produzir - diz o professor André Parente, que há seis anos
participou
da cria ção do N-Imagem. - O Arte Interativa vai resultar num CD-ROM
sobre a obra
de Hélio Oiticica e um site do Centro de Artes com direito a visita virtual.
E o Visorama é o primeiro projeto de realidade virtual integrado ao espaço
urbano no Brasil, criando panorâmicas da cidade em outras épocas.
Idéia do telescópio vem dos panoramas
A idéia básica do equipamento, conta Parente, não vem de hoje.
O Visorama tem como avôs ilustres os panoramas, gigantescas pinturas
de paisagens em 360 graus que instaladas em prédios, eram para o século
passado o que o cinema tem sido neste: uma possibilidade de viagem, sem sair do lugar,
através de estímulos à percepção .
- Victor Meirelles chegou a pintar grandes panoramas do Rio de Janeiro,
mas todos eles se perderam - conta Parente, que trabalha no Visorama com os
pesquisadores Jonas Gomes e Luiz Velho, do Instituto de Matemática Pura e
Aplicada, o Impa. - Estamos realizando uma pesquisa em imagens de época para
alimentar o Visorama, que a partir das fotografias consegue criar um ambiente
virtual.
Na computação gráfica, em geral são criados modelos
matemáticos que são transformados
em imagens. No Visorama, o processo é inverso: a partir de imagens, são criados
modelos que permitem simular realidade, reconstruir, por exemplo, a geografia
de outras décadas. Apoiando pela Funda ção Universitária
José Bonifácio, o projeto
está sendo apresentado neste fim de semana no "New story-tellers", um congresso
mundial de novas tecnologias da imgem realizado em Fortaleza. Ainda este ano,
encontros sobre novas mídias em Bruxelas e na Universidade de Paris 8 também
conhecerão o telescópio.
- Na verdade, o Visorama é para ser pensado a longo prazo,
pode ter muitos usos
- diz Parente. - É possível, por exemplo, contratar artistas plásticos
para intervir virtualmente na cidade. Eles criam obras que são inseridas na
paisagem através do telescópio.
Este potencial criativo das novas tecnologias levou a professora Kátia Maciel
a associar a experimentação de Hélio Oiticica com possibilidades
abertas pelo
CD_ROM. Em vez de produzir um disco como os dedicados tradicionalmente a pintores
e museus, ela optou por dividir a obra de Oiticica a partir de seus conceitos
fundamentais: bólides, parangolés. metaesquemas etc. Kátia gravou
vídeos sobre
cada um dos temas para inserir clipes no CD e ainda distribuí-los em fitas de
home vídeo.
Jornal O GLOBO,
Segundo Caderno
As realidades do mundo virtual
Visorama e CD-ROM sobre a obra de Hélio Oiticica unem tecnologia e
criatividade.
Imagine um telescópio através do qual se pode contemplar determinado
ponto do Rio
como ele era há um século. Na paisagem, escolha um prédio,
o Centro Hélio Oiticica,
ÿpor exemplo, entre nele e visite sua coleção sem sair do lugar.
O que parece delírio futurista já saiu do papel e se torna uma realidade
mais concreta do que virtual nos projetos Visorama e Arte Interativa,
realizações do N-Imagem, o Núcleo Cultura e Tecnologia da
Imagem da Pós-Graduação
da Escola de Comunica ção da Universidade Federal do Rio de Janeiro.