A divulgação e repercussões

Pouco depois de termos terminado as Derivadas Cordeiro teve conhecimento de que o "Serviço de Divulgação e Relações Culturais dos EUA" estava organizando na "Minigaleria" da biblioteca do USIS, em São Paulo, uma exposição chamada "Computer Plotter Art" (primeira mostra na America Latina) que reuniria 12 trabalhos feitos com computador nos EUA, usando plotter CalComp (California Computer Inc.). Não conheço os detalhes dos contactos de Cordeiro com os organizadores da exposição, mas, finalmente, Derivadas foram expostas na Minigaleria (de 13 a 17 de março de 1970) e a imprensa deu ampla divulgação do fato, realçando que artistas brasileiros estavam expondo junto com trabalhos feitos "com a mais alta tecnologia".

As discussões que ocorreram durante a exposição e algumas divulgadas pela imprensa com relação à questão se "Arte por Computador" pode ser considerada realmente "Arte" foram muito interessantes. Às vezes parecia que as pessoas esqueciam que instrumentos musicais clássicos, pinturas, pinceis telas etc. envolviam uma boa dose de tecnologia, desenvolvidas durante séculos, sem falar na Fotografia, no Cinema na Televisão e nos famosos e ainda não reproduzidos Stradivarius.

Parece que toda vez que uma nova tecnologia passa a ser usada em arte, a primeira reação é negar sua validade. Depois, aos poucos, vai se tornando tradicional e é aceita!

Ao discutir com Cordeiro o significado dessas reações fiquei muito surpreso com relação aos processos da Crítica de Arte. Para Cordeiro, mais escolado nesse campo, a reação não era inensperada.

Nossos trabalhos foram exibidos em varias Exposições Internacionais e receberam, em geral, crítica favorável.

Desejo citar tres referências que indicam o quanto Derivadas atingiu os especialistas em Arte por Computador.

A primeira se refere ao artigo "Technology and art 15: Computer graphics at Brunel" publicado na conceituada revista "STUDIO INTERNATIONAL - JOURNAL OF MODERN ART - Print Supplement june 1970 - London" pelo respeitado crítico Jonathan Benthall. Neste artigo, ao fazer a crítica da exibição montada pela "Computer Art Society", para acompanhar o "Computer Graphics Symposium" na Universidade Brunel, perto de Londres, em abril de 1970, Benthall, após relembrar o potencial evidente na exposição "Cybernetic Serendipity" no "Institute of Contemporary Arts" (ICA) em Londres em 1968, se revela desapontado com os trabalhos expostos e declara que, para ilustrar o referido artigo, escolheu os quatro gráficos de Derivadas, apesar de não terem sido expostas! (chegaram atrasadas). Adiante, após descrever o trabalho, declara:

"....O que me faz pensar que isto é arte e não um artifício (contrivance), é a escolha evocativa da imagem. Quando vi pela primeira vez esta série, por um momento, não detectei que a imagem à esquerda mostra uma cabeça masculina e uma feminina e, ainda mais ambiguas, as duas figuras de pé à direita. Cordeiro e Moscati ...... parecem interessados na fronteira entre legibilidade e ilegibilidade.... ......A sequência de Cordeiro e Moscati lembra imagens estáticas de uma seqüencia de um filme explorando, talvez, uma elusiva relação humana, sem a necessidade de atores.".

Dois anos depois (1972), no seu livro "Science and Technology in Art Today", Benthall volta a comentar "Derivadas" com destaque. Ao compara-las com trabalhos que usaram tecnologias muito mais sofisticadas, que considerou "pura demonstração de técnica", declara:

"....O trabalho de Cordeiro é um começo na direção de trazer de volta as emoções humanas ao mundo frio e cerebral do computador.

Se você começar olhando a imagem 4, sem ter visto as imagens de 1 a 3, ela é quase ilegivel. Mesmo a imagem 1 é obscura: as cabeças masculina e feminina, em primeiro plano à esquerda, são facilmente lidas, mas há duas figuras em pé à direita que são vagas. Há uma obvia ligação com as pinturas Whitley Bay de Richard Hamilton e com Blow-up de Antonioni, aos quais já me referí no capítulo sobre fotografia. Seria absurdo considerar Derivadas de uma imagem como um profundo trabalho de arte; o que nele é de extremo interesse é a possibilidade que sugere de efetuar modulações semelhante em filmes.".

A segunda se refere ao livro Art et Ordinateur (Casterman, Paris, 1971) do Prof. Abraham Moles, Diretor do Instituto de Psicologia Social da Universidade de Strsbourg, França. Este livro, escrito em linguagem acadêmica, explora as relações entre Arte, Tecnologia, Psicologia, Percepção e Informação. As imagens de Derivadas ilustram a abertura do capítulo IV - Poética, Literatura e Informação.

A terceira se refere ao livro "Computer Graphics - Computer Art" traducão de "Computergraphik-Computerkunst" de Herbert W. Franke (Verlag, Munich 1971). Neste livro é feita uma descrição geral do estado da Arte por Computador e da Computação Gráfica da época. É feito um apanhado geral das várias técnicas usadas e são reproduzidos 100 trabalhos feitos com as mais variadas técnicas que caracterizam o "Estado da Arte". Derivadas está entre os reproduzidos, como sendo um trabalho original e significativo e os autores estão citados entre os trinta grupos internacionais ativos no campo. O livro teve uma segunda edição em 1985 e, apesar de incluir novos trabalhos que evidenciam a trementa evolução da técnica, volta a reproduzir nosso trabalho.

Desde então estes trabalhos foram exibidos em diversas Exposições e Homenagens a Waldemar Cordeiro.

Para a exposicão em 1986 no MAC/USP, em Homenagem a Cordeiro, preparei uma versão para PC (microcomputador pessoal) do programa BEABÁ que rodava continuamente, ligado a uma impressora, e permitia aos visitantes receber uma listagem de "palavras ao acaso" que era sua, pessoal, pois cada um recebia uma versão diferente. Penso que esta oportunidade de visitar uma exposição de Arte e sair com um "Original Pessoal" de uma "Obra de Arte", diferente de qualquer outro existente, estava em sintonia com o estilo próprio de Cordeiro e de sua maneira de ver a Arte e que, se estivesse vivo, teria aprovado com entusismo.


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