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28 Sep 1998
Revista Época - seção Ciência e Tecnologia


Na Fronteira do Saber

Os 23 programas de pós-graduação avaliados como de excelência pela Capes têm dinheiro, estrutura e docentes altamente qualificados

Brasil conta com pelo menos 23 ilhas de excelência acadêmica atestadas pela recém-concluída avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). As oportunidades oferecidas por tais instituições de prestígio superam em muito as encontradas em outros pontos do país. Quem chegou lá pode se considerar um privilegiado. Sobrevive em paz e com relativa fartura em meio às enormes dificuldades de educação no país. Com exceção de um único curso - o de Educação da PUC de São Paulo -, todos os outros pertencem a universidades ou instituições públicas.

Nas últimas semanas, Época visitou esses programas (de mestrado e doutorado) avaliados com nota máxima (7). E constatou que, ao contrário da maioria dos brasileiros, seus pesquisadores não temem o desemprego. Eles pertencem a uma elite para a qual não falta trabalho, embora a contrapartida seja remuneração relativamente modesta e carreira competitiva. A pedido do MEC, os cursos estão sendo avaliados por consultores do exterior, a quem caberá dizer se seus níveis de excelência podem ser comparados aos primeiros do mundo.

A maioria dos programas está em universidades paulistas - 65% deles. Só a Universidade de São Paulo (USP) colocou dez na lista. A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) tem dois inclusos, e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), outros dois. Depois da USP, a universidade com maior número de ilhas de excelência é a Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com três programas entre os 23. Fica também no Rio o único centro com nota máxima da Capes sem ligação com alguma universidade - o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Nenhum curso da área de saúde conseguiu destaque. Em compensação, Ciências Agrárias tem quatro.

Participar de um programa de excelência não é apenas uma questão de prestígio. As agências federais, como o CNPq e a Finep, e as estaduais, como a Fapesp, em São Paulo, distribuem suas verbas segundo a avaliação da Capes. Quem produz com qualidade recebe mais verbas para pesquisa e bolsas de estudo. Hoje é difícil encontrar um pesquisador dos melhores cursos que se queixe de falta de dinheiro para pesquisa. As reclamações têm como alvo o salário, o corte de bolsas e a burocracia. Em São Paulo, a pesquisa é forte graças ao apoio ininterrupto da Fapesp. A lição que se tira do exemplo paulista é evidente. Onde recebe apoio, a pesquisa tende a crescer. Nos outros lugares, ela sobrevive a duras penas.


Artigos dão o poder de fogo

Docentes de programas nota 7 publicam mais

As notas de 1 a 7 dadas aos programas de pós-graduação inauguraram uma nova metodologia de avaliação da Capes. Até 1996, os cursos que conseguiam conceito A alcançavam o teto. "Percebemos que muitos já haviam passado desse nível. Então levantamos o teto", explica o ministro da Educação, Paulo Renato Souza. Os 1.293 programas passam a ser avaliados com notas de 1 a 5 para os que têm apenas mestrado e até 7 para os que incluem doutorado.

A diferença entre o 6 e o 7 decorre da excelência de cada programa traduzida em alguns critérios quantitativos e qualitativos. É preciso, por exemplo, que os programas tenham inserção internacional, corpo docente com experiência em centros do exterior, dedicação exclusiva e, especialmente, que publiquem artigos em revistas estrangeiras de impacto. Uma publicação de impacto é aquela lida pela nata de cientistas e intelectuais que trabalham em determinada área nos principais centros. Ter um artigo aceito em revistas como Nature e Science é importante para o pesquisador por ser uma garantia de que ele será lido e comentado pela comunidade científica. Os 23 programas avaliados com o conceito máximo têm a maioria de seus docentes publicando um ou mais artigos por ano nas melhores revistas do mundo - ou seja, eles produzem mais, com mais qualidade.

As estrelas atribuídas a cada programa a seguir têm o seguinte significado, segundo a quantidade: duas, adequado; três, regular; quatro, bom; cinco, muito bom.


      Neldson Marcolin (colaboraram:
Mirian Ibañez, Frances Jones
e correspondentes)



Impa

O que turismo histórico tem a ver com as cincunspectas atividades do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) do Rio de Janeiro? Tudo, segundo os responsáveis pelo Laboratório de Computação Gráfica, Jonas Gomes e Luiz Velho. Essa unidade do Impa criou o primeiro binóculo virtual da América Latina: dois tubos de vidro que simulam os movimentos de quem está por trás dele, cujas imagens podem ser alteradas em computador. "Com esse aparelho, um turista poderia ver o Corcovado sem os prédios em volta ou como era o Rio há 500 anos", sugere Gomes. Os pesquisadores citam o exemplo para mostrar como as pesquisas do instituto podem servir à sociedade de várias maneiras. O Impa foi a primeira unidade de pesquisa criada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (CNPq), em 1952, e hoje tem 300 professores e pesquisadores. Seu principal objetivo é desenvolver modelos matemáticos para usos tão diversos como diagnóstico de tuberculose ou para a segurança de fundos de cédulas e moedas. O diretor-adjunto, César Camacho, diz que não faltam equipamentos e verbas para pesquisa, mas considera os salários baixos: o mais alto é de cerca de R$ 3 mil. "Estamos perdendo gente para institutos e universidades do exterior por causa disto", alerta.

Síntese do programa
Quesitos     Peso     Avaliação
1. Proposta do programa -    * *
2. Corpo docente 20   * * * * *
3. Atividades de pesquisa 5   * * * * *
4. Atividades de formação 10   * * * * *
5. Corpo discente 15   * * * *
6. Teses e dissertações 25   * * * * *
7. Produção intelectual 25   * * * * *
Tendência dominante * * * * *

Inscrições: até 20 de novembro
Informações: (021) 529-5011 e 529-5016
www.impa.br





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