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28/05/2010
Visorama: um novo conceito de audiovisual
Débora Motta
André Parente |
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Visorama: multi-resolução permite ao
observador ver bem desde a imagem panorâmica total até os pequenos detalhes |
A proposta é criar uma
experiência visual alternativa ao cinema convencional, em que as
imagens são previamente editadas e a narrativa já vem estabelecida por
um autor. No Visorama, que recebeu apoio da FAPERJ e da Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep) por meio do edital Rio Inovação II, é o
espectador quem se apropria das ferramentas de edição e elabora a
narrativa. Em Figuras na paisagem, o visitante vai
construindo a narrativa do filme ao vivo, ao visualizar cenas
panorâmicas, em 360°. Essas imagens, acompanhadas de uma narração,
descrevem a presença de um leitor que se desloca entre o Real Gabinete
Português de Leitura – uma biblioteca circular – e a praia de Ipanema,
ambiente tipicamente carioca. Elas podem ser editadas a partir do
acionamento de botões com três funções: zoom, rotações
horizontais e verticais, e transições de imagem.
De acordo com
Parente, o Visorama rompe com as três dimensões tradicionais do cinema:
arquitetura (a sala de cinema), tecnologia (câmera e projetor) e
narratividade (organização das relações espaço-temporais). “O Visorama é
diferente porque, com o auxílio das novas tecnologias, permite recriar o
cinema em outros locais além das salas de cinema tradicionais, como
galerias e museus, sem a rígida disposição das cadeiras em frente à tela
de projeção”, diz o pesquisador artista, destacando entre essas
diferenças a relação de interatividade entre imagem e espectador. “Cabe
ao espectador explorar as imagens de forma a encontrar um lugar para si
diante do que ele vê, ouve e sente.”
O novo sistema de realidade
virtual tem como base o conceito de panorama – o primeiro dispositivo de
imagens de comunicação de massa a proporcionar total imersão ao
espectador. O panorama é um tipo de pintura mural, construída em um
espaço circular em torno de uma plataforma central, de onde os
espectadores podiam observar a imagem em 360°. “O Visorama pertence a
essa linhagem de dispositivos panorâmicos, patenteados no fim do século
XVIII, por Robert Baker. Ele oferece a mesma experiência dos panoramas
originais, mas no mundo virtual”, conta André Parente, que também se
inspirou na câmera para fotografar panorâmicas e no sistema de projeções
fotográficas em 360º criados pelos pais do cinema, os irmãos Lumière,
em 1898.
Tecnologia 100% brasileira
Para conceber o Visorama, foi necessário um longo estudo multidisciplinar, que reuniu fundamentos da matemática, da computação gráfica e da comunicação. O coordenador do laboratório Visgraf (Vision and Graphics Laboratory) do Impa, Luiz Velho, ficou responsável pelo desenvolvimento tecnológico do produto. “Ficamos encarregados pela construção do dispositivo físico do aparelho e do sistema de computação criado especialmente para o Visorama”, diz Velho, que é Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. Ele trabalhou com conceitos do chamado Image-Based Rendering – entre eles síntese, análise e processamento da imagem, além da modelagem geométrica.
Velho e Parente desenvolveram, inicialmente, dois protótipos do Visorama, que estão no Núcleo de Imagem (N-Imagem) da Eco e no Visgraf. Segundo Velho, a tecnologia de panorama virtual de multi-resolução é um dos diferenciais do Visorama. “O binóculo é uma interface mais natural para o observador do que um mouse ou uma tela de computador, e também permite a ele uma imersão total no ambiente virtual”, avalia. “O maior desafio que tivemos na época da construção dos protótipos foi sincronizar os movimentos do binóculo com a visualização da imagem em tempo real e alcançar um alto nível de detalhamento da cena com o zoom sem perder a qualidade.”
André Parente
Visão da praia do Arpoador em 360°: Visorama
tem como base o conceito de panorama, popular já no fim do
século XVIII
Da academia ao
mercado
Com o objetivo de transferir a tecnologia do
Visorama do ambiente acadêmico para a sociedade, a dupla de
pesquisadores entrou em contato com a empresa Digitok, que iniciou suas
atividades na incubadora de empresas Gênesis, da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), e se especializou em
desenvolvimento e integração de software e hardware para
mídias interativas. "A ideia era aprimorar os protótipos desenvolvidos
pelos pesquisadores e criar um produto comercial", diz Ruben
Zonenschein, diretor da Digitok, que trabalha no projeto desde 2006.
Para
inserir o produto no mercado nacional, o hardware e o software
do Visorama foram adaptados. O design tornou-se mais moderno e com
mobilidade total. "O produto ganhou uma interface intuitiva. Isso quer
dizer que a interação se dá através de movimentos naturais do usuário,
como se ele estivesse utilizando um binóculo com tecnologia Oled
(Organic Light-Emitting Diode)", explica Ruben. Outra
característica inovadora do produto é a capacidade de multi-resolução,
que permite ao observador visualizar desde um plano panorâmico até uma
pequena folha no chão da cena, sem perder em qualidade de imagem. "O
sistema está preparado para fornecer detalhes em tempo real de imagens
panorâmicas em altíssima resolução, na ordem dos gigapixels."
O
equipamento exibido na videoinstalação Figuras na paisagem é o
primeiro produzido em escala comercial pela Digitok. Além de ser uma
ferramenta que pode ser utilizada em instalações de arte contemporânea –
ampliando as fronteiras do entretenimento e anunciando o que pode vir a
ser o cinema do futuro –, o Visorama pode ter aplicações em outros
segmentos, como no turismo histórico (intercalando o antes e o depois
das paisagens e aproximando o observador minuciosamente dos detalhes dos
pontos turísticos), em museus e centros culturais (possibilitando
visitas virtuais) e em feiras de eventos (ilustrando produtos). "É uma
plataforma multimídia que pode atender a diversos mercados", conclui
Luiz Velho.
© FAPERJ – Todas as matérias poderão ser reproduzidas, desde que citada a fonte.
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